Instituto Cãodeirante lança primeira inteligência artificial dedicada ao cuidado de pets com deficiência do Brasil
Quem tem WhatsApp já pode interagir com o Marrom, IA que tira dúvidas sobre o dia a dia dos animais; no futuro, projeto irá auxiliar jornada completa de adoção de um pet com deficiência

Animais com deficiência têm índice menor de adoção; na foto, Manolo, de Sophia Porto Kalaf, fundadora e presidente do Instituto Cãodeirante
O Instituto Cãodeirante acaba de lançar uma tecnologia pioneira no Brasil, que tem potencial para transformar o universo de pets com deficiência no país. Trata-se de Marrom, uma inteligência artificial conversacional dedicada ao cuidado de animais com deficiência, desenvolvida pela ia2. Os usuários já podem conversar para tirar dúvidas e obter informações sobre a adoção e os cuidados de animais com deficiência. “Conforme as pessoas interagem com a ferramenta, sua base de dados cresce organicamente, mapeando dúvidas frequentes e ampliando seu conhecimento para solucionar, também, dúvidas gerais sobre a rotina dos pets”, explica Thales Alarcon, sócio da ia2.
A iniciativa homenageia Marrom, cachorro cadeirante que viveu por sete anos com a psicóloga Sophia Porto Kalaf, fundadora e presidente do Instituto, após ser resgatado de um atropelamento e passar três anos em um abrigo. “A convivência com o Marrom foi determinante para a criação da ONG. Agora, ele ganha vida em formato digital para orientar tutores e interessados de forma acessível e empática”, diz Sophia.
A tecnologia está em sua primeira fase. O próximo passo é a elaboração de uma “jornada de responsabilidade”, processo no qual os interessados em adotar um animal com deficiência poderão avaliar se eles realmente estão aptos e têm condições de cuidar destes animais. A seguir, a terceira fase será um app, construído a partir do conhecimento de especialistas, de uma comunidade de amantes de animais e interessados no universo dos pets com deficiência. O app poderá mapear os animais que precisam de auxílio e adoção em todo o país, conectando os pets com aqueles que desejem dar um lar, cuidado e amor.
Um levantamento do projeto State of Pet Homelessness, com dados da Euromonitor International e entre outras fontes, aponta que cerca de 30 milhões de cães e gatos vivem hoje nas ruas no Brasil. Já dados do Instituto Pet Brasil e da Abinpet apontam que cerca de 4,8 milhões de cães e gatos vivem em situação de vulnerabilidade no país – ou seja, são de famílias abaixo da linha da pobreza ou recebem alimentação e cuidados de pessoas que não podem abrigá-las em casa. Desse número, cerca de 4,2% estão sob o cuidado de ONGs de abrigo e proteção animal (201 mil cães e gatos). “E em um universo muitas ve-zes marcado por pressões estéticas e comerciais — cachorros de determinadas raças ou cores têm uma taxa muito maior de adoção do que os que não se encaixam nesses pa-drões —, os animais com deficiência sofrem ainda mais”, afirma Sophia.
Já outros, vivem normalmente com suas famílias de tutores até sofrerem um acidente – por exemplo um atropelamento. “Na imensa maioria dos casos eles são abandonados e passam a ser animais desassistidos, em situação muito precária. Frequentemente, até profissionais veterinários sugerem a eutanásia, como se não houvesse possibilidade de vida com qualidade para esses pets”, explica Sophia. “Nós acreditamos que todos os ani-mais merecem respeito e amor, independentemente de sua condição.”