sexta-feira, abril 19, 2024
Administração

Será que ele sabe?

A afirmação vem de uma reportagem publicada pela revista VEJA (edição nº 1969) que constata a relação homem – cachorro existente há mais de doze mil anos, e que é caracterizada pela compreensão mútua e companheirismo. É bem verdade, como os lojistas dos negócios pet e leitores da Pet Center já sabem, que muitos donos de animais acreditam que seus bichinhos de estimação são dotados de sentimentos tipicamente humanos, como ciúmes, inveja, saudades, etc.
A este processo chamamos de humanização do animal. É preciso ressaltar que, cientificamente, o cão não pensa. A noção de pensamento está ligada à capacidade de conceituar e abstrair o mundo que nos rodeia utilizando uma linguagem. Por este conceito, o único animal que é capaz de pensar é o homem. Ao animal, no caso os nossos amiguinhos de quatro patas, a definição é a de inteligência, caracterizada como a capacidade de resolver problemas empregando processos cognitivos como memória, aprendizado, raciocínio e comunicação.
Os resultados de uma pesquisa feita pelo antropólogo americano Brian Hare, do Instituto Marx Planck, em Leipzig, Alemanha; que desde 1995 até os dias atuais dedica-se a trabalhos científicos sobre o comportamento canino, aponta três principais descobertas: a primeira, é a forte relação de confiança e companheirismo que une o cachorro e o homem, preferindo o cão, muitas vezes, ficar com o ser humano, a interagir com outros de sua espécie.
A segunda, é que o cão é o animal que melhor interpreta o homem. O cachorro, com o passar dos tempos, especializou-se em observar e reagir ao comportamento humano, desenvolvendo habilidades, seguindo instruções e mantendo o foco nas pessoas. A terceira e não menos importante descoberta é que a capacidade de aprendizado do cachorro é realmente maior do que se pensava. A habilidade de responder prontamente ao menor gesto e sinais de alteração de humor de uma pessoa faz com que se tenha a impressão de que o cachorro é capaz de entender como as pessoas pensam.
A adaptação canina ao universo humano foi tão completa que, segundo a análise do cientista, certas características do comportamento do homem foram transmitidas para o cão.
Contudo, a este último aspecto, não é prudente exagerarmos. É preciso levar em consideração a proporção contrária a este processo, a animalização homem; que vem através de fábulas e exprime o sentimento humano de forma atenuada pela fala animal.
Algo semelhante aparece nas histórias em quadrinhos e na publicidade. Colocar sentimentos humanos nos animais seria dar a eles algo como a possibilidade de “pensar” traduzido pelo poder de se comunicar com os homens. Para o homem, fica a possibilidade de ver na figura do animal, um ser mais livre, despreocupado com o estresse da vida urbana.
Os provérbios também usam a figura do animal como fonte inesgotável de resgate da personalidade humana. O tão famoso “cão que ladra não morde” pode significar que este cão que está latindo não morde, mas principalmente faz uma referencia às pessoas que ameaçam muito e não fazem nada.
É a partir do final da Idade Média, com o Renascimento, que o cachorro começa a ganhar características mais humanizadas, fundamentalmente quando se torna o personagem principal da história. Em casos como o do Snoopy, o cão de Charlie Brown, criado em 1950, por Charles M. Schulz, esta característica “humana” manifesta-se através de pensamentos filosóficos, não deixando o cachorro de ser um animal, uma vez que dorme dentro ou sobre uma casinha de cachorro, come alimentos para cães e vive como qualquer cão.
Dessa forma, podemos dizer que os cães têm inteligência, já que não são seres meramente respondentes, mas possuem a capacidade de aprender a partir de experiências. Quando essas experiências são propiciadas pela ação do homem, o cão passa a reter informações que farão com que ele repita ou evite certos comportamentos.
E aí está o fundamento da educação canina: a melhoria do relacionamento entre o homem e o animal. O homem, por meio de experiências repetidas, consegue o condicionamento do cão tornando a convivência entre ambos agradável e produtiva.
Para Stanley Coren, professor de psicologia da Universidade de British Columbia, treinador e especialista em comportamento canino, cães demonstram instintivamente múltiplas inteligências em diversas situações tais como: inteligência espacial, inteligência de coordenação motora, inteligência intrapessoal, inteligência interpessoal, inteligência musical, inteligência lógica e principalmente lingüística.
Essa última faz com que os cães sejam capazes de se comunicar, uma vez que, são animais sociais. Na natureza, é possível observar cães selvagens e lobos se organizarem para caçar, administrar posições sociais e divisão de tarefas, o que mostra um claro sistema de comunicação. Além disso, cães são capazes de atender associando ou não a comandos.
Desde os tempos mais remotos, a ligação entre o homem e o cão se deu pelo fato dos cães exercerem funções para nós, desde ajuda física até apoio psicológico. Alguns trabalhos com cães são a guarda de propriedades e pessoas, caça, pastoreio, tração, busca de objetos, pessoas ou substâncias, salvamento, auxílio a deficientes e terapia com idosos, doentes e deficientes mentais.
Com efeito, o cachorro, depois de muitas gerações, passou por adaptações para sua domesticação e adaptação à vida humana. De símbolo, mito, a trabalhador dedicado, ele é fonte de inspiração para artistas das mais variadas culturas que, por séculos, os retratam em diferentes modos da comunicação humana.

Bárbara Cabral é Bacharel em Publicidade e Proganda pela UniverCidade e Pós-Graduanda no curso de MBA Executivo em Marketing da mesma instituição. Bacharel e licenciada em História pela Universidade Gama Filho, atualmente é coordenadora de marketing corporativo no setor de TI, com trabalhos acadêmicos desenvolvidos em análise semiótica de anúncios publicitários com animais, psicologia do consumidor e negócios para o mercado Pet.