quinta-feira, março 28, 2024
Administração

A criatividade do profissional de finanças

Já percebi olhares maliciosos quando comentei sobre meu trabalho para a área financeira. Para alguns, o uso profissional da criatividade em finanças e principalmente em contabilidade remete ao jeitinho brasileiro no seu pior significado. Nada mais longe da realidade.
O profissional de finanças nos negócios pet não pode ser o detentor do não. Lembrando uma das famosas frases de Domenico de Masi, sociólogo italiano e autor de mais de 10 livros sobre criatividade nas organizações: “O não é o oposto da criatividade”.
O papel da área financeira é apoiar, não intimidar. Isto significa transcender o balancete, ter um olhar empreendedor. É sinônimo de pensar além do orçamento, ter visão de longo prazo e considerar inclusive resultados intangíveis, como a motivação dos colaboradores e a imagem institucional da empresa.
As áreas de contabilidade e finanças têm e sempre terão muito poder nas empresas, mas passam rapidamente do controle para a influência, apoiando as outras áreas em seus projetos e sobretudo ouvindo, ensinando e negociando.
Conforme enfatiza o diretor financeiro Guilherme Kalili, o profissional de finanças deve gerar empatia e entender os pontos de vista de seus colegas; e só se beneficia ao mostrar aos demais quais são suas necessidades. Na verdade, cada negociação que a área financeira tem com as demais deve ser vista como uma oportunidade para o aprendizado mútuo e, portanto, um facilitador das demais.
Mas ao falar de profissionais de finanças estamos falando de pessoas altamente lógicas, com muito conhecimento e que tendem a exercitar um pensamento fortemente estruturado. Mas essas competências os impedem de se tornarem criativos? De forma nenhuma.
Ser criativo é uma escolha. Uma habilidade. Há momentos que exigem lógica e extrema racionalidade, outros que demandam abertura e busca de alternativas. Para Edward de Bono, uma das maiores autoridades mundiais em criatividade, o que faz a diferença é o hábito de “pensar sobre como pensar”, ou seja, direcionar a mente em função do tipo de pensamento que gerará os melhores resultados diante de cada situação.
E na medida em que há consciência do tipo de pensamento que está sendo utilizado, o pensamento criativo é meramente uma opção. E alguns procedimentos, como os mencionados abaixo, só podem contribuir:

Pense sempre em várias alternativas – Alternativas devem ser criadas mais do que procuradas. O fato de alguém não ver alternativas não significa absolutamente que elas não existem, significa apenas que elas ainda não foram geradas.

Saia do dualismo – A civilização judaico-cristã condicionou as pessoas a ver o mundo de forma dualista – há sempre o bem e o mal, o certo e o errado. Apesar de as pessoas terem consciência das nuances e complexidade existentes entre dois pólos, elas podem tender a reduzir as soluções a um simples sim ou não.

Explore possibilidades – O julgamento é um exercício constante entre tomadores de decisões. Entretanto, ele não deve ser a primeira reação a uma proposta. Sugiro uma atitude inicial exploradora, uma reflexão sobre o potencial da idéia. Não é preciso aceitar ou rejeitar uma proposta integralmente, a busca deve ser sempre no sentido de aproveitar o que há de bom ou especial em cada situação.

Esteja preparado para as surpresas – Nos Estados Unidos, os bancos lançaram os caixas automáticos tendo em mente um público de executivos. Mas os principais clientes dos caixas automáticos no início foram os imigrantes, pessoas que, pela dificuldade com o idioma inglês, não gostavam de se dirigir ao caixa.

Houve um erro de previsão, leitores da Pet Center? Talvez, mas e daí? Em vez de se preocuparem com erros e culpados, os bancos passaram a localizar seus caixas automáticos nos bairros onde moravam os tais imigrantes. Quem acredita que fazer dar certo significa fazer algo acontecer da forma que havia previsto não percebe as oportunidades embutidas naquilo que não conseguiu antever.
Não é difícil ser criativo: Envolve vontade e consciência de como fazer para sê-lo. DDeeppooiiss disso, vem a prática. Inevitável, pois a demanda é imensa.

Gisela Kassoy – Consultoria em Criatividade
www.giselakassoy.com.br